Junho é o mês dos namorados e é certamente o mês em que mais se ouve falar do amor. Mas afinal de contas, o que é o amor?
O entendimento do amor é fundamental para toda sociedade e em especial para aqueles que compartilham da fé cristã.
Deus é Amor, de fato, mas o amor é Deus?
Nem sempre que dizemos a palavra “amor” queremos dizer a mesma coisa. Das mais diversas definições, a mais comum é a divisão entre o amor romântico e o amor fraternal, mas seriam esses os únicos tipos que existem?
Vamos ver hoje que na verdade, podemos dividir o amor em 4 tipos diferentes.
O texto de hoje é baseado na obra “Os Quatro Amores” de C.S Lewis e vamos conhecer cada um dos 4 tipos de amor e o que caracteriza cada um deles.
- Afeição (Storge)
- Amizade (Philia)
- Amor romântico (Eros)
- Caridade (Ágape)
Vamos entender melhor essas definições e analisar de forma profunda o que, de fato, é o amor.
A distinção dos Amores
Para iniciar a nossa descoberta dos amores, vou introduzir com a primeira distinção dos amores que Lewis faz.
Antes de entrar nos Quatro Amores, é necessário entender a diferença entre o Amor-Dádiva e o Amor-Necessidade
O Amor-Dádiva e o Amor-Necessidade
Eles serão a base para entendermos os conceitos de cada tipo de amor.
O Amor-Dádiva é o amor mais parecido com o próprio Deus, é o amor que faz um homem trabalhar e lutar pelo futuro de seus filhos, mesmo que não esteja lá para usufruir de tudo que conquistou.
É o amor de Deus pela humanidade, que dá tudo que é e tem a Jesus, e Jesus tem o mesmo amor pelo Pai, entregando-se de volta ao Pai e se dando ao mundo.
Já o Amor-Necessidade é o que reflete a nossa natureza humana, nascemos desamparados, nus, vulneráveis e assim que nos damos conta dessa realidade, experimentamos a solidão.
Precisamos dos outros se quisermos saber qualquer coisa, inclusive sobre nós mesmos.
O Amor-Necessidade é o que faz uma criança correr assustada e sozinha para os braços da mãe, como viu Platão, nosso Amor-Necessidade é o filho da pobreza.
A intenção de Lewis, não é apresentar o Amor-Necessidade como uma coisa ruim e feia, mas demonstrar que esse tipo de amor pode ser usado de forma egoísta e destrutiva.
Como o próprio Lewis diz: “Uma demanda tirânica e voraz por atenção, pode ser horrível. Entretanto, ninguém chama uma criança de egoísta só porque ela busca conforto em sua mãe, ou um adulto ‘companhia’ em seu par.”
Onde existe o Amor-Necessidade pode haver sim, pontos de atenção para que ele não se torne uma coisa ruim.
Mas seres humanos que não o sintam, são os que chamamos de egoístas e frios, tendo em vista que precisamos uns dos outros, não sentir necessidade de outros é um sintoma ruim, assim como a falta de apetite, já que realmente precisamos nos alimentar.
“O amor torna-se um demônio, no momento em que se torna um deus.”
Deus é amor, mas o inverso não é verdadeiro.
Quantas atitudes foram justificadas como “foi por amor”, como se o amor pudesse ocupar tamanho nível de devoção a ponto de ser suficiente.
O gostar e o amar em relações sub-humanas
Quando crianças, fomos diversas vezes repreendidos por “amar” coisas, Lewis menciona que na sua criação isso ocorreu também, na língua inglesa isso se dava pelos termos “gostar” e “amar”.
Nós brasileiros ainda tínhamos outro verbo polêmico nesse sentido, o “adorar” (especialmente para crianças cristãs). Quem nunca ouviu a famosa frase “adorar somente a Deus” quando o sentido da frase era somente “gostar muito”.
Bom, acredito que você já tenha entendido a minha contextualização da visão de Lewis sobre o assunto.
Prazer Necessidade e o Prazer de Apreciação
Gostar de algo significa ter algum tipo de prazer, sendo o prazer dividido por Lewis em dois tipos:
Prazer Necessidade:
Que são os que se tornam prazeres apenas se precedidos pelo desejo, como por exemplo, um gole d’água que sacia uma sede intensa.
Prazer de Apreciação:
Que são os prazeres em si mesmos sem necessitar de nenhum tipo de preparação, como por exemplo, um cheiro muito bom que sentimos ao caminhar por um jardim.
Um vício pode transformar um prazer do primeiro tipo em prazer do segundo tipo.
Quando prazeres-necessidade estão em evidência, tendemos a fazer afirmações sobre nós mesmos no tempo passado.
Já nos prazeres-apreciação tendemos a afirmar sobre o objeto de prazer no tempo presente.
- Essa água matou a minha sede. (prazer-necessidade)
- Essas flores têm um cheiro muito bom. (prazer-apreciação)
Os prazeres-necessidade prenunciam os nossos amores-necessidade. Nesse último, a pessoa amada é vista em relação às nossas próprias necessidades, assim o Amor-Necessidade não durará mais do que a própria necessidade.
Outro amor precisa estar incluído e sustentá-lo quando a necessidade desaparecer.
Nosso Amor-Necessidade por Deus está em uma posição diferente, já que a nossa dependência por Ele nunca acaba, porém a nossa consciência dessa necessidade pode enfraquecer e dessa forma, nosso Amor-Necessidade também se esvai.
O prazer apreciativo e o amor apreciativo entre homens e mulheres geram admiração; entre o homem e Deus, gera adoração.
Nosso Amor-Necessidade por Deus nos faz clamar a partir de nossa pobreza, o Amor-Dádiva deseja servir e até mesmo sofrer por Deus.
Já o amor-apreciativo nos faz dar Graças a Ele por sua grande Glória.
Nosso Amor-Necessidade entre humanos é o que diz “não posso viver sem ele (a)”.
Nosso Amor-Dádiva aspira cuidar da pessoa mesmo se não recebermos nada e o amor-apreciativo suspira, alegra-se, apenas pelo fato da pessoa existir.
Normalmente, esses três elementos se misturam.
Os Quatro Amores
Agora que entendemos essa divisão base, podemos compreender o conceito dos Quatro amores apontados por C.S. Lewis.
Vamos ver, um a um, e apresentar suas principais características:
Afeição: Storge
É o mais simples e mais amplamente difuso dos amores.
O amor Storge é aquele pelo qual nossa experiência parece diferir pouco dos animais (e com essa afirmação Lewis ressalta que não está desprezando ou menosprezando esse amor, apenas mostrando que ele é quase que inerente à própria existência)
Storge, pelos gregos é “afeição especialmente da relação de pais e filhos”
Como ilustração, a mãe cuidando do bebê ou uma gatinha cuidando da sua ninhada.
O filho tem Amor-Necessidade, já a mãe tem o Amor-Dádiva que se mistura ao seu próprio Amor-Necessidade, pois a necessidade da mãe é se doar, ela necessita ser necessária.
A Afeição se expande para muito além do relacionamento entre pais e filhos, não considera barreiras sociais, de idade, ignora a diferença entre espécies.
Seus alvos precisam ter familiaridade: velho amigo ou amigão, são termos muito conhecidos ao se referir a objetos de afeição.
A Afeição é aquele tipo de amor que não se sabe como começou exatamente, pois a impressão é a de que sempre esteve lá.
É o amor mais humilde, pois não procura impressionar, é modesto.
Dentro da Afeição, o Amor-apreciação não constitui elemento básico; normalmente é necessária ausência ou sofrimento para que comecemos a valorizar aqueles a quem somente a afeição nos une.
Nós os damos por certos, o que seria inconcebível no amor erótico, aqui, é correto e apropriado até certo ponto.
Sua natureza é sossegada e confortável.
No fim das contas, a afeição pode ser capaz de possibilitar apreciações que não teriam ocorrido se ela não estivesse presente, nós escolhemos nossos amigos e a pessoa a quem amamos por várias qualidades como beleza, franqueza, bondade, humor, inteligência ou qualquer outra coisa.
Mas é necessário que seja um tipo específico dessas características, pois temos nossas preferências nessas coisas. É por isso que frequentemente amigos e amantes sentem que foram “feitos um para o outro”.
A Afeição pode se associar a outros amores e fazê-los funcionar melhor, um dos seus subprodutos mais impressionantes é possibilitar apreciações que sem ele, jamais teriam existido.
A Afeição amplia a nossa mente para sermos capazes de perceber o outro, ainda que ele não se encaixe nas nossas pré-concepções e, assim, conseguir suportá-lo e até sorrir, curtir e por fim apreciar, cruzando uma fronteira.
Esse Amor Storge é capaz de amar os repulsivos, não é arrogante, não tem muitas expectativas, ignora falhas e abre os nossos olhos para a bondade que não víamos antes.
Mas poderia a afeição ser comparada com o Amor em si? Já que ao traçarmos esse paralelo, ela se assemelha bastante ao Amor-caridade (Ágape) descrito pelo apóstolo Paulo?
A resposta é não. A Afeição pode estar presente e causar a infelicidade. Por si mesma, a Afeição pode manchar e difamar a vida humana.
Quando o Storge se torna um problema
O Storge começa pelo Amor-Necessidade, que é de todos os anseios por amor, o mais irracional.
Nós ansiamos pela afeição do outro e por considerarmos a afeição como algo certo, os problemas que surgem quando essa afeição não é percebida.
Todos podem ser objeto de Afeição e o problema é que todos esperam ser.
Assim, um pai pode se enfurecer ao perceber que não é amado pelo filho, quando na realidade nunca se propôs a entender se aquele filho experimentou a familiaridade de receber a Afeição do pai.
Enfurecemos-nos, pois, por ser um tipo de amor natural, esperamos recebê-lo e culpamos ao outro por estar agindo contra a natureza.
Então esse amor começa a ser cobrado, ou até mesmo exigido.
A Afeição não tem caráter meritocrático, mas a necessidade e exigência em tê-la acabam por fechar a própria fonte que esperamos beber e o amor que deveria ter aquele calor familiar, como se calçasse chinelos e pijama, se torna repulsa e vontade de fugir.
No entanto, a Afeição no Amor-Dádiva também pode apresentar problemas e infelicidades, quando a necessidade de ser necessário nunca se esvai, é, por exemplo, a mãe que se recusa a cortar o cordão umbilical e insiste em ter o controle e ser necessária para a família.
No livro, Lewis conta a história de uma família que mudou completamente depois da morte da mãe, já que ela fazia até mesmo as roupas dos filhos e do marido.
A intenção da mãe durante a vida era boa. Ela acreditava que estava fazendo o melhor pelos filhos, mas a sua necessidade em ser necessária sufocou a sua família e tirou deles a possibilidade de sentirem a felicidade vinda da Afeição.
Ela lavava as roupas, mesmo que sua família a implorasse para não lavá-la, ela vivia para a sua família e qualquer palavra que a impedisse de fazer algo por eles a deixava profundamente magoada e ressentida.
Será que ela não sabia o mal que fazia sendo assim? Claro que sabia.
Mas a dor nos seus pés e costas gritava para ela que seu amor era grande e a impediam de enxergar o que ela se negava: de que não era mais necessária.
A mudança é uma ameaça para a Afeição, ao menor sinal disso, ela pode se tornar ciumenta, competitiva e destrutiva.
Amizade: Philia
O mundo moderno ignora esse tipo de amor, enquanto existem milhares de músicas e histórias sobre o Storge e o Eros, esse tipo de amor sempre parece ser deixado mais de lado.
Celebra-se Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, mas quantas histórias de amizade sobrevivem aos dias atuais?
Uma das amizades mais bonitas da Bíblia, a história de Davi e Jônatas, têm sua importância diminuída e muitas vezes distorcida, como se a amizade fosse impossível de existir.
Nós admitimos que um homem devesse ter alguns bons amigos além da esposa, mas frequentemente esses bons amigos são mais um produto da Afeição do que da Amizade em si.
A resposta mais óbvia para a pouca valorização da Amizade é que poucos a experimentam ao longo da vida, ela representa o amor menos natural e o menos instintivo de todos.
A beleza da Amizade
Phileo não tem nenhuma interação com nossos nervos, não tem uma voz sensual, não acelera nossos batimentos cardíacos, nem te faz corar ou empalidecer.
Sem o Eros nenhum de nós teria nascido. Sem o Storge (Afeição) nenhum de nós teria sido criado.
Mas um ser humano pode passar a vida inteira sem experimentar o Phileo sem grandes conseqüências futuras.
Os antigos a exaltavam muito, pois parecia o mais desafiador dos amores e o que mais nos diferia dos animais, algo que nos aproximava ao nível de deuses ou anjos.
Mas tudo isso mudou com a chegada do Romantismo e a supervalorização do sentimento e exaltação do instinto.
Tudo o que antes recomendava a Amizade, agora se virava contra ela.
O maior problema na amizade em nosso contexto tão democrático e coletivo, é que ela precisa excluir para incluir, afirmar que alguém é seu amigo é também afirmar que o outro de fato, não é.
Enquanto a imagem do Eros é representada pelos amantes olhando nos olhos um do outro, a Amizade é representada pelos amigos lado a lado, ombro a ombro.
A pergunta dos amigos seria: você se preocupa com a mesma verdade que eu? Mesmo que a sua resposta seja diferente da minha.
“A Amizade surge do mero Companheirismo quando dois ou mais companheiros descobrem que têm em comum alguma ideia, interesse ou mesmo gosto que os demais não partilham e que, até aquele momento, cada um deles acreditava ser o seu tesouro (ou fardo) especial.
A expressão típica do início da Amizade seria algo como: “O quê? Você também? Pensei que eu fosse o único”. (Retirado de “Os Quatro Amores”)
A Amizade é o amor menos ciumento de todos os amores.
Ela enxerga e aprecia o outro, além de em cada amigo ser revelada uma faceta de quem nós somos, enquanto dois é o número ideal para o Eros, no Phileo isso pode ser muito maior.
“Sozinho não sou grande o suficiente para externar em atividade o homem que sou por inteiro”. (Retirado de “Os Quatro Amores”)
Se alguém compartilha conosco interesses em comum, poderá ser nosso companheiro, mas se não compartilharem algo a mais nunca poderão ser nossos amigos. Como foi dito, a amizade necessita dessa verdade compartilhada para existir.
Pessoas que simplesmente “querem ter amigos”, nunca o terão.
“Aqueles que nada têm nada poderão repartir; aqueles que estão a caminho de ‘lugar nenhum’ não poderão ter companheiros de viagem”. (Retirado de “Os Quatro Amores”)
Quando o Phileo se torna um problema
No entanto, como todos os nossos amores naturais, a amizade pode revelar problemas no que tange ao orgulho.
Já que a amizade precisa excluir para existir, no que diz respeito a isso ela pode trazer alguns vícios, como por exemplo:
- Indiferença a opinião alheia que pode evoluir para um desprezo ou desdém com quem está fora do grupo de concordância
- Soberba social
- Esnobismo
- Expressão de superioridade
- Exibicionismo
Além disso, Lewis aponta a impossibilidade da existência de uma amizade verdadeira entre homem e mulher, já que se ambos não forem repulsivos fisicamente um com o outro, provavelmente o Eros surgirá dessa relação e a enriquecerá mais.
A admiração mútua, o Amor-apreciação, é saudável e impede esse relacionamento de ser empobrecido, mas podemos ser levados a acreditar que enxergar essa beleza no outro se deve apenas ao nosso próprio bom gosto, quando na verdade é o próprio Deus quem revela as virtudes a nós e é Ele quem nos une.
Amor Romântico: Eros
Pode ter causado certa surpresa que a Afeição tenha sido apresentada como o mais instintivo e animalesco dos amores, pelo fato do Eros ser frequentemente associado apenas ao caráter sexual.
No entanto, Lewis explica que o sexo pode ocorrer sem o Eros (que engloba outras coisas além da atividade sexual).
Não é necessário o “estar apaixonado” para que o sexo exista.
Sendo assim, ele faz a distinção do Eros com a expressão da sexualidade, aqui chamada de Vênus.
Talvez até existam aqueles que inicialmente apenas sentiram apetite sexual pelo outro, mas normalmente não é isso que ocorre.
O mais comum é o surgimento de uma agradável preocupação com a pessoa amada, nesse estado o sexo fica em segundo plano, já que a preocupação é com ela em sua totalidade.
A sua ocupação é pensar em uma pessoa, o fato mais importante é o de ela ser ela mesma, não apenas um ser sexual capaz de suprir necessidades biológicas.
Desejo sexual sem o Eros quer apenas o ato em si, o Amor Romântico quer a pessoa Amada.
A beleza do Amor Romântico
No Eros, a necessidade no seu ponto mais intenso, vê o objeto como algo admirável em si, muito mais importante do que sua relação com a necessidade do amante.
Sem o Eros, o desejo é muito mais sobre nós mesmos, mas dentro dele é muito mais sobre a pessoa amada.
É comum o pensamento de que o Eros seria mais puro com a presença reduzida de Vênus.
Os teólogos morais mais antigos pareciam pensar que evitar o casamento nos pouparia de uma entrega aos sentidos capazes de destruir a alma, mas essa não é nem de longe a abordagem da Bíblia.
O próprio Paulo ao dissuadir os convertidos em relação ao casamento não disse nada sobre isso, além de desencorajar a prolongada abstinência da Vênus (1 Co 7:5), a preocupação de Paulo não é em relação a satisfação das necessidades sexuais do cônjuge, mas as necessidades gerais da vida doméstica.
O próprio casamento e rotinas diárias que podem impedir o serviço a Deus e não a cama do casal.
Na amizade cada um é responsável por si, já no Eros um é responsável pelo outro, na realidade esse Amor e o Prazer de Vênus podem trazer muita dor também.
Quando dois se amam eroticamente, a simples tentativa de mostrá-los que esse amor pode lhes trazer dor, fará com que se unam ainda mais.
Isso porque no Amor Romântico, a vontade de compartilhar coisas com a pessoa amada é muito maior do que com o resto do mundo, mesmo que o objeto a ser compartilhado seja a infelicidade.
“Os apaixonados não são comovidos pela gentileza, e a oposição os faz sentir como mártires.” (Retirado de “Os Quatro Amores”)
Quando o Eros se torna um problema
Frequentemente o Eros fala como um deus, cria suas próprias leis e no fim parece uma justificativa plausível para diversas atitudes egoístas e desastrosas.
Como falado no início deste texto: quando o amor se torna um deus, ele se torna um demônio.
Muitas são as preocupações de que o casal idolatre um ao outro, mas o real perigo é quando o casal idolatra o próprio Amor Romântico. Lewis sustenta:
“Esses amantes o supõe dotado do poder e da veracidade de um deus. Espera que o mero sentimento faça por eles, e de modo permanente, tudo o que for necessário.
Quando a expectativa se frustra, põem a culpa em Eros — ou, o que é mais comum, nos parceiros. Na verdade, porém, Eros, ao fazer sua promessa gigantesca e mostrar vislumbres de como vai realizá-la, já ‘cumpriu o seu papel’.
Ele faz os votos como um padrinho; somos nós que devemos cumpri-los. Somos nós que devemos nos esforçar para que nossa vida cotidiana se aproxime cada vez mais do que nos foi mostrado de relance”. (Retirado de “Os Quatro Amores”)
O Eros por si só, por mais que revele certa doçura, força e porto seguro, não é capaz de sustentar-se, ele precisa então ser governado, caso não seja, ele morre ou se torna o próprio demônio.
A não ser que ele seja governado pelo próprio Deus, ele pode morrer, ou pior ainda, se tornar uma prisão, cheio de ciúmes, ressentimentos, razão e privação total de liberdade e individualidade.
É por isso que antes de viver um Amor Romântico é fundamental ter um relacionamento íntimo com Deus.
Caridade: Ágape
Além dos amores naturais, Deus concede ao homem uma dádiva ainda melhor, Ele comunica ao ser humano uma parcela do Seu próprio Amor-Dádiva.
O amor de Deus agindo em nós é inteiramente desinteressado e deseja apenas o que for melhor para a pessoa amada, é habilitado para amar quem não é naturalmente amável e que pode ser aos nossos olhos humanos, até merecedores do nosso completo desprezo.
O Amor de Deus em nós realiza transformações no nosso Amor-Dádiva em relação ao próprio Deus, ainda que Ele não tenha necessidade de nada, damos a Ele tudo o que somos.
Esse amor é capaz de operar até mesmo naqueles que não têm a menor ideia de que ele esteja presente, como o prisioneiro não faz ideia do Deus oculto em si e em quem o visitou. (Mt 25:35-40)
O Ágape em nós, nos confere um Amor-Necessidade sobrenatural por Deus e nos capacita a receber o Amor-Necessidade uns dos outros.
A Caridade não é fingida.
Uma falsa Caridade é apenas um instrumento para ferir e humilhar o outro.
A Caridade não é simplesmente dissolvida no amor natural, mas o amor natural é encontrado por ela e se torna um amor alinhado e obediente ao Amor de Deus.
Os amores naturais em si não são suficientes e dizer isso não significa menosprezá-los, de forma alguma, mas indica onde está sua verdadeira glória.
Não é uma ofensa ao jardim dizer que ele precisa de um jardineiro para podá-lo, tirar suas ervas daninhas e cortar sua grama.
Dessa mesma forma nossos amores naturais necessitam da poda e cuidado de Deus, de uma limpeza constante para que o jardim tenha de fato sua beleza revelada.
Deus colocou nos nossos corações esses jardins de amores e nos configurou a fim de termos o desejo de vestir esses amores.
Amores Naturais X Amor de Deus
O Amor Natural só pode fazer o seu papel e continuar a ser o que é quando humilhado diante do Amor e da soberania de Deus.
O problema do Amor Natural é ele ser destacado como um deus, e ser feito um rival ao amor de Deus.
Assim como está em Lucas 14:26, além do perigo de amar pouco nosso próximo, o maior perigo é o de amar os outros de forma idólatra, onde foi demonstrada a possibilidade de um rival ao amor de Deus em cada esposa, mãe, filho e amigo.
“Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a si mesmo.” (Lc 14:26)
Agostinho descreve em Confissões, a tristeza que a morte de seu amigo o trouxe e destaca isso como uma lição de que ao dar seu coração para qualquer um que não seja Deus, ficaremos desolados e sofreremos.
É claro que isso faz sentido, mas Lewis destaca que se pensarmos somente dessa forma estaremos sujeitos a um coração duro, incapaz de amar qualquer coisa.
Amar é ser vulnerável!
O próprio Jesus chorou a morte de seu amigo Lázaro, mesmo sabendo que o ressuscitaria.
“Ame alguma coisa e provavelmente seu coração certamente ficará apertado e possivelmente partido.” (Retirado de “Os Quatro Amores”)
Esconder o nosso coração para mantê-lo a salvo de todo e qualquer sofrimento, nos tornaria duros. O único lugar, fora do céu, em que ficaríamos livres e seguros de todas as perturbações do amor é o inferno.
Não seria essa atitude muito semelhante a do servo negligente? Que simplesmente escondeu o seu talento por considerar o seu senhor um homem severo?
Se uma pessoa não consegue expressar amor espontaneamente aos seus queridos neste mundo, é bem provável que também não consiga expressá-lo a Deus, que não vê.
Então, qual a solução de Jesus para equilibrar esses amores? Certamente mais dura e difícil do que a de qualquer teólogo sobre o tema:
“Se alguém vier a mim e não aborrecer (odiar) a seu pai, e mãe, e mulher… e sua própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14.26)
Nesse caso a palavra odiar, quer dizer rejeitar. Devemos rejeitar aqueles a quem amamos quando eles estiverem entre nós e nossa obediência ao Senhor.
Isso significa não fazer concessões, significa se tivermos que escolher ou priorizar alguém, sempre vamos priorizar o Senhor. Apenas assim, nossos amores estarão ordenados no lugar certo e poderão ser e fazer o que se propõem.
Deus é o próprio Amor e mesmo sem necessidade de nada, escolheu criar cada um de nós a fim de compartilhar o seu Amor, amando-nos e aperfeiçoando-nos neste Amor.
A graça substitui a nossa falsa humildade, que nos levava a acreditar que no fundo tínhamos certa atratividade.
A graça nos leva a reconhecer a nossa necessidade do Amor e a partir do Amor-Necessidade que temos de Deus, recebemos o Amor-Dádiva uns para com os outros, como Caridade uns para com os outros, já que amamos porque Ele nos amou primeiro.
A melhor forma de conhecer o Amor de Deus, é conhecendo a Ele. Por isso, não deixe de conferir nosso outro conteúdo: como ouvir a voz de Deus.
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Este post tem 4 comentários
2020 foi um ano totalmente conturbado com a covide que
parou o mundo e mudou a vida também da população.
Obrigado pela informação esat sendo bem útil e
informativo. Compartilhei no meu twitter e facebook, pois
o artigo é útil para todos.
Estou maravilhada com esse texto. Deus te abençoe.
Que texto belo de se ler!
Mais Afeição com A de Alegria;
Mais Amizade com A de Apreço;
Mais Amor com A de Ardor;
Mais Caridade com C de Cristo!
Bendito É O Senhor Jesus!
Olá tudo bem? Espero que sim 🙂
Adorei seu artigo,muito bom mesmo!
Abraços e continue assim.