Hollywood e a crise de identidade do homem pós-moderno

Se você for um cinéfilo, como eu, provavelmente já assistiu à diversos filmes e produções hollywoodianas este ano de 2019. 

Não sei qual delas mais chamaram sua atenção, mas alguns filmes em especial tem me levado a refletir sobre um tema em comum, abordado por eles: a crise de identidade do homem pós-moderno

É possível ver este tema ser abordado, entre outros, em filmes como Toy Story 4, X-Men: Fênix Negra e O Rei Leão. 

Mas peraí, nada de passar o carro na frente dos bois aqui, então antes de mostrar como o tema se revela nestes filmes, vamos nos ater aos conceitos de modernidade e pós-modernidade, para ficar claro do que estamos falando. 

O homem moderno 

Os termos modernidade e pós-modernidade são ambas expressões cujo objetivo é estabelecer períodos conceituais da sociologia histórica. 

Ou seja, são expressões usadas para descrever certos períodos históricos do ponto de vista sociológico. Não entendeu nada do conceito? 

Então deixa eu clarificar um pouquinho para você. 

A história da humanidade é dividida em diversos tempos e períodos que são moldados por determinados comportamentos humanos, característicos de cada época, sendo que estas características especiais de cada período o destacam e o tornam diferentes dos demais períodos da história. 

Tanto a modernidade quanto a pós-modernidade são alguns destes períodos históricos e tratam-se dos dois mais recentes. 

Inclusive, estamos, neste momento, vivendo a pós-modernidade. Mas para entender o homem pós-moderno, precisamos antes entender o homem moderno

Em linhas gerais e historicamente falando, a modernidade começa a se desenhar com o iluminismo, a criação dos Estados Nacionais na Europa, o racionalismo. 

O homem moderno era aquele que buscava romper com o passado de fabulas e mitos e alicerçar suas esperanças na razão humana e na sua capacidade de criar cultura, ciência, civilizações, progresso. 

O modernismo é um período sociocultural marcado então pelo rompimento do homem com as crenças e ideias medievais, vistas como ultrapassadas e que enxergavam o mundo como algo misterioso e por vezes incognoscível, dominado pelo sobrenatural. 

Enquanto o homem pré moderno era um ser místico, acostumado a ideia de um mundo governado pelo sobrenatural, por Deus, o homem moderno acredita que a razão humana e, portanto, o próprio homem, é o centro de poder e capacidade de governo da história do mundo.  

Em muitos aspectos, o homem pós-moderno fez de si seu próprio deus. A crença generalizada da modernidade era de que tudo que fosse produto da razão, tudo que fosse novo, moderno, arrojado, seria bom. 

Com isso vemos a valorização da ciência, o surgimento dos processos de produção de bens de consumo em massa, a ascensão do capitalismo. 

A crença do homem moderno era que, ao se deixar governar pela razão, o mundo caminharia inevitavelmente para o progresso.  Aliás, o personagem Buzz Lightyear, de Toy Story, resume bem a máxima moderna em seu jargão “ao infinito e além…

Só que… deu ruim… muito ruim mesmo…

Todo o brilhantismo da razão humana conduziu o mundo não para sua melhor versão, por assim dizer, mas para um de seus piores momentos: duas grandes guerras mundiais, dezenas de mortos, países esfacelados, famílias separadas, crueldade e atrocidade, guerra fria, um mundo imerso no caos!!! 

E como subproduto de todo esse caos nasce o homem pós-moderno.

A pós-modernidade 

A pós-modernidade, tem como seu marco a queda do muro de Berlim, em 1989, e, como vimos, tem seu nascedouro na percepção de que as ideias da modernidade estavam equivocadas, o racionalismo humano não foi capaz de criar um mundo melhor. 

Mas isso não quer dizer que o homem pós-moderno repudie todas as vertentes e ideias da modernidade. 

Em muitos aspectos a pós-modernidade é uma extensão da modernidade, no sentido de valorizar o consumo, a ciência, a tecnologia. 

Mas por outro lado, o homem pós-moderno é um ser niilista. E se você nunca ouviu falar em niilismo, deixe-me esclarecer pra você. O niilismo é uma doutrina filosófica que basicamente prega que nós estamos lascados…

O niilismo é uma doutrina pessimista e ceticista que acredita que não existe um modo de resolvermos as coisas, que não tem jeito para este planetinha azul que habitamos. 

Este pensamento, como era de se esperar, se desenvolve do fracasso da modernidade, no sentido de alardear o progresso com base na razão. 

Se o jargão do homem moderno era a famosa frase de Descartes “penso logo existo”, o jargão dos niilistas pós-modernos é “penso, logo desisto”. 

Esse desencantamento com o mundo, faz com que o homem pós-moderno se sinta perdido. 

Afinal, se não acreditamos mais nas ideias “arcaicas” de sobrenatural, na existência de um Deus a nos guiar, como nos ensinou a modernidade, mas se também não podemos confiar que o homem e seu racionalismo mudarão o mundo, então qual a razão de estarmos aqui? 

Qual a razão da existência do homem? Existe um propósito? Um motivo? Existe esperança? Quem nós realmente somos? E porque estamos aqui? Qual o sentido da vida? Qual o meu sentido na vida? Quem sou eu, no meio de tudo isso, afinal? 

Essas são algumas das perguntas que você talvez já tenha se feito ou já tenha ouvido outros fazerem por aí. 

E elas significam que o homem pós-moderno esta em crise. Crise existencial, crise de identidade! 

A crise de identidade e a cinematografia hollywoodiana

Identidade, a grosso modo, é o conjunto de características próprias, particulares, diferenciadas, que fazem você ser você. 

Identidade é o que te faz ser único, individualizado, diferente da massa. Sua identidade é o que te faz compreender quem você é e quem não é. 

Então, crise de identidade é não saber quem você é. Se sentir perdido dentro de si mesmo e no mundo a sua volta

Não entender seu propósito, seu sentido na vida. Infelizmente, esse é um sintoma cada vez mais presente na pós-modernidade. 

Como eu disse no início deste post, basta você prestar um pouquinho mais de atenção e vai perceber que este é um tema recorrente nas mais diversas produções culturais e mesmo acadêmicas nos nossos dias. 

Está nos livros que você lê, nas séries que assiste, nos filmes que vai ao cinema ver. 

O negócio tá tão sério que até o diabo já entrou nessa farofa. Se você já viu algum episódio ou teve notícia de uma tal série da Netflix, chamada Lúcifer, você já sabe do que estou falando, afinal a lógica do seriado é que até o capiroto está enfrentando uma baita crise de identidade. 

Mas como eu não sou nem um pouco fã do diabo e não pretendo lhe dar nenhum tipo de fama, acho melhor nos atermos a analisar as produções cinematográficas citadas no início do post mesmo. 

Mas já vou logo avisando, se você, porventura, for um alien, que chegou recentemente ao nosso planeta, e ainda não assistiu a algum dos filmes citados, eu sugiro que você os assista para não me acusar de dar spoilers pra você. 

Toy Story, X-men, Rei Leão e a Crise de Identidade

Em Toy Story, a famosa saga dos brinquedos, acompanhamos nosso querido xerife de pano, Woddy, passar por diversas situações difíceis para tentar salvar o mais novo brinquedo de sua dona, Bonnie. 

O brinquedo foi criado por Bonnie a partir de objetos tirados do lixo e apesar de ganhar vida para ser um brinquedo, o Garfinho, personagem em questão, não consegue entender seu lugar no mundo, quem de fato é. 

Ele foi criado para ser um brinquedo, mas se vê como lixo, então vive fugindo para o lixo. Isso é o que eu chamo de tremenda crise de identidade.

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Mas o Garfinho não é o único, coitado, que padece desse mal, Jean Gray, a famosa telepata de x-men, sente a mesma coisa. 

Em um dos momentos de X-men, Fenix Negra, vemos Jean Gray, sentada em um bar, bebendo, fingindo ser outra pessoa, pra se esconder das pessoas a sua volta (um comportamento bastante pós-moderno, por sinal). 

Então uma personagem meio dúbia da trama aparece e um dialogo interessante surge, no qual Jean pergunta quem é aquela mulher misteriosa. 

A mulher devolve, dizendo que a pergunta certa a se fazer seria “Quem é você, Jean?”. Advinha a resposta da moça, um sonoro e categórico “eu não sei quem eu sou!”. 

E se você se compadeceu do Garfinho e da Jean, pense no tamanho da crise de identidade de um leão que come lesmas para viver!!! 

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Afinal o que é a história de O Rei Leão, se não, a de um ser perdido, que não sabe quem é, nem seu lugar no mundo!

Esse é Simba, um leão que vive como se fosse um suricato ou um porco selvagem. Um leão que não vive como leão, não age como leão, não quer assumir as responsabilidades de ser leão. 

Alguém que se sente ferido pela vida e decide se esconder dela. Alguém que já não sabe mais quem é e qual o seu propósito no mundo!

Então, usa as distrações trazidas por seus amigos, Timão e Pumba, pra se entreter e não ter que pensar sobre si mesmo e o que fazer com sua vida. 

Qualquer semelhança com a atual geração, infelizmente não é uma mera coincidência… 

Sério, isso é triste, muito triste! Mas sabe qual a pior parte disso tudo? Vivemos num mundo repleto de Garfinhos, Jeans Gray e Simbas

Inclusive, você pode até se sentir como eles. 

Mas calma, não se desespere ainda, existe solução e esperança para as nossas crises de identidade

Afinal quem é o homem? E qual o seu propósito? 

É interessante percebermos como cada um dos filmes em questão deu uma solução para a crise de identidade vivida por seus personagens. 

E por incrível que possa parecer, no caso dessas produções em especial, podemos, analisando metaforicamente as histórias, chegar a verdades espirituais.

Garfinho e a necessidade de pertencimento 

Veja-se, por exemplo, que a resposta apresentada em TOY STORY para a crise de identidade do Garfinho é o pertencimento. 

O personagem entende que pertence a Bonnie, que foi criado por ela, para ter relacionamento, estar e brincar com ela. 

Quando o personagem entende isso para de se ver como “lixo” e entende sua condição. 

Do mesmo jeito, eu e você fomos criados por Deus, a Sua imagem e semelhança como dizem as Sagradas Escrituras (Genesis 1:26,27) para termos relacionamento íntimo com Ele, pertencermos a Ele, estarmos com Ele. 

Assim foi desde o princípio, mas o homem no Éden se perdeu, perdeu sua identidade ao se afastar de Deus e passou a correr, assim como o personagem Garfinho, para lugares de podridão, passou a se sujar e se acostumou com sua sujeira, com o pecado. 

Isso, por sua vez, criou no homem uma imagem cada vez mais distorcida de si mesmo. Perdemos nossa referência de valor, ao perdermos nosso pertencimento.

Então o próprio Deus resolveu se sacrificar para restaurar o homem ao seu local de pertencimento

Para limpar o homem e restaurar nele a correta imagem de quem ele é: filho de Deus, se crer no Seu nome. 

Em TOY STORY, para resgatar Garfinho, levá-lo a seu local de pertencimento e novamente uni-lo a sua dona, Woody, nosso corajoso xerife de pano, acaba mutilado, por ter que entregar parte de si mesmo em troca de Garfinho. 

Foi um pequeno sacrifício por um companheiro. 

Mas, nem de longe o sacrifício de Deus, na pessoa de Jesus Cristo, pode ser considerado pequeno. 

Na verdade, foi um sacrifício monumental, incomensurável, impossível de ser imaginado ou medido por nossas mentes humanas limitadas. 

Este é o maior sacrifício de que o universo jamais terá notícia!!!

O profeta Isaias, um dos profetas veterotestamentários a anunciar a salvação do homem por meio de Jesus Cristo, nos diz, nos texto do capítulo 53 do livro que leva seu nome, que, por nós, Jesus foi moído, destroçado, dilacerado, suportando em si mesmo toda a ira que deveríamos receber. 

Ira pela nossa sujeira, maldade, podridão, por todo o sangue que nós derramamos nesta terra.

Por todos os nossos pensamentos e feitos injustos e cruéis a Bíblia diz que Deus, que é bom, santo e justo e não tolera a injustiça, irou-se e permanece irado. 

Mas essa ira não recaiu sobre nós, porque recaiu sobre Cristo! Ele tomou o nosso lugar para fazer na cruz convergir de forma perfeita a justiça e a graça de Deus! 

Em Cristo e por Cristo deixamos de ser aqueles que caminham em e para a podridão, para sermos aqueles que retornam ao nosso único e verdadeiro dono! 

Podemos estar com Ele, nos deleitarmos na sua presença, tal qual o Garfinho com sua dona Bonnie. 

Jean Grey e a importância da família

E se Toy Story nos ensina sobre reconhecermos quem é nosso dono, a quem pertencemos, em X-men: Fênix Negra, percebemos a importância da família para nos ajudar a enxergarmos quem realmente somos. 

Jean Gray foi enxertada na família X-men e apesar de não haver entre aqueles ditos mutantes um laço consanguíneo a personagem entende que aquela é sua família, aqueles que lutam por ela, para fazê-la se lembrar de quem é, para ajudá-la e protegê-la das ameaças do mal sobre ela e do mal que mora nela mesma. 

Se você ainda não entendeu onde quero chegar, é muito simples, também fomos enxertados em uma nova família, a Igreja.

Assim, juntos, aqueles que creem em Cristo e pertencem a Ele, possam se fortalecer, se ajudar, lutar uns pelos outros contra o mal a nossa volta e contra o mal dentro de nós. 

Precisamos da Igreja, de estar na Igreja e ser Igreja, porque nossos irmãos nos ajudam, nos nossos momentos de crise, a nos lembramos quem nós somos em Cristo Jesus.

Simba e o propósito na existência

E por fim, temos então que, como Simba, descobrirmos qual o nosso propósito neste mundo. 

O momento de virada desse personagem ocorre quando ele, enfim, entende qual o seu lugar “no ciclo da vida”, qual o seu propósito, qual o motivo, a razão de ser da sua existência. 

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O mesmo vale pra nós, porque fomos criados por Deus e depois salvos por Ele com um propósito: manifestarmos a sua Glória, fazê-lo conhecido, trazer outros perdidos para a realidade da nova vida, cheia de significado e identidade, em Cristo. 

Quando perdemos de vista esse nosso propósito consequentemente nos perdemos também. 

Portanto, para resolvermos nossas crises existenciais, para sabermos quem somos e porque estamos aqui, precisamos nos lembrar continuamente que pertencemos a CRISTO, precisamos contar com o apoio da nossa família da fé e precisamos caminhar dentro do propósito de Deus pra nós! 

Nas palavras do apóstolo Paulo precisamos entender que: “…agora já não sou mais eu quem vivo, Cristo vive em mim e essa vida que agora vivo na carne, vivo pela fé no filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim!” 

 

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Este post tem 10 comentários

  1. AGEU ALVES DOS SANTOS JUNIOR

    Sensacional esse texto!

  2. Samuel Ferreira

    Wooooooooul, senscional e super importante entender essa questão de identidade.

  3. Isaac Pêgo Santos

    Top!

  4. Pedro Moraes

    Incrível!

  5. Davi Romano

    Que textasso! A arte copia a vida!

  6. Déborah Ribeiro

    Textão! Incrível como tudo a nossa volta aponta pras nossas necessidades como seres humanos <3

  7. Anônimo

    Excelente texto! Meus parabéns!

  8. Curso Online

    Sou a Marina Almeida, gostei muito do seu artigo tem
    muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.

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