Em um tempo no qual a razão do mundo é gerar lucro, vivemos em uma sociedade de extrema pressão e cobrança.
Um dos grupos mais afetados por esse pensamento são os próprios líderes, principalmente quando não suprem as expectativas depositadas neles.
Essa realidade não é diferente no meio eclesiástico.
Líderes cristãos estão sendo cada vez mais pressionados a fazer sua igreja local crescer e cuidar do próximo mais do que cuidar de si mesmo.
Assim a demanda exagerada dentro das igrejas leva à desatenção com a família e ao descuido de si mesmo, que causam cada vez mais sofrimento.
Como reflexo de tudo isso aparece o tema do post de hoje: a Síndrome do Burnout.
Além de ser uma pauta atual, é super importante falar sobre ela e como é possível preveni-la, especialmente quando ela se tornou tão comum dentro de círculos da fé cristã.
Então, continue com a gente!
O que é burnout?
A palavra Burnout vem do inglês, dos termos burn, que significa “queimar” e out, que tem o significado de “exterior”. Quando juntos, temos o nome da síndrome que denota esgotamento total proveniente do trabalho.
Ana Merzel, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Albert Einstein, define o Burnout como um quadro caracterizado por três sinais clássicos:
- Esgotamento físico e psíquico (a sensação de não dar conta das tarefas);
- Indiferença e perda de personalidade (não se importar mais com o próprio desempenho profissional, cinismo e apatia);
- Baixa satisfação profissional. “Os primeiros sintomas podem ser físicos, como dor de cabeça, dor de coluna e distúrbios musculares” .
No Brasil, a Associação Internacional de Gestão de Estresse estima que 32% dos profissionais sofrem com o esgotamento no ambiente de trabalho.
Segundo o Autor e Professor de Teologia Éder Calado, da FTSA, a Síndrome de Burnout é um problema que pode afetar profissionais de qualquer área de atuação profissional.
Isso, porque qualquer profissão pode ser extremamente estressante.
As profissões mais afetadas, entretanto, são aquelas que lidam diretamente com pessoas no dia a dia.
Por exemplo, empregos relacionados à saúde, à segurança ou ao trabalho de call center.
Os principais sintomas da síndrome são: ansiedade, aumento de irritabilidade, perda de motivação, redução de metas no trabalho e baixo ou nenhum comprometimento com os resultados.
Além dos malefícios físicos, a síndrome pode levar à perda de amigos, isolamento social e até mesmo à demissão do emprego.
O Burnout e o pastoreio
Da mesma maneira que qualquer profissão está exposta à possibilidade de estresse extremo, os pastores e líderes eclesiásticos também o estão.
Afinal, a profissão de pastores é extremamente exigente e demanda muito do indivíduo.
Uma das principais causas da síndrome estar tão presente em meio aos pastores é a negligência que muitos têm tido, ao nem mesmo observar sua própria saúde.
Segundo Calado, o Burnout pode inclusive anteceder à Depressão e na Igreja as possíveis causas dos dois casos podem ser as mesmas: o descaso das instituições com seus líderes e o descaso do próprio líder consigo mesmo.
As igrejas muitas vezes sugam seus pastores sem prestarem atenção a suas necessidades.
E o próprio líder muitas vezes negligencia sua própria saúde, não cuidando do corpo, da sua alimentação, de seu lazer, de sua família etc. — tudo isso para cumprir agendas ministeriais exageradas e “ter sucesso”.
Outro fator que pode estar ligado à síndrome é a ideia de fracasso dentro das igrejas.
Assim, quando pastores não conseguem bater metas e objetivos, várias vezes perdem a autoconfiança, motivação e autoestima.
Por isso percebe-se que muitos pastores nos dias de hoje são infelizes e enxergam o ministério eclesiástico como um peso em suas vidas .
Dados do Instituto Schaeffer confirmam esse pensamento com uma pesquisa feita nos Estados Unidos que afirma que:
1) 70% dos pastores lutam constantemente com a depressão;
2) 71% estão “esgotados”;
3) 72% dos pastores dizem que só estudam a Bíblia quando precisam preparar sermões;
4) 80% acredita que o ministério pastoral afeta negativamente as suas famílias;
5) 70% dizem não ter um “amigo próximo”.
Percebe-se também que a perfeição é muito cobrada entre líderes cristãos.
Infelizmente a membresia de igrejas ainda enxerga o pastor como alguém que não pode errar e tem que fazer tudo de maneira impecável.
E os próprios líderes acabam colocando esse peso neles próprios.
A agenda de pastores nos dia de hoje só tem aumentado com visitas, pregações, estudos, reuniões administrativas, financeiras entre outras.
Comumente ele não podem nem mesmo negar-se a participar de novos eventos, por serem vistos como alguém que tem de servir à comunidade local a todo custo.
Como prevenir o Burnout?
É necessário estabelecer uma vida saudável, que abra espaços para o lazer e tempo com a família.
Quando a utopia é deixada de lado, percebe-se que não é necessário atingir todas a metas, aceitar todos os convites para qualquer evento e nem suprir as expectativas de todos ao seu redor.
O Ministério da Saúde propõe 8 medidas para prevenir a Síndrome do Burnout ou até mesmo curá-la:
- Defina pequenos objetivos na vida profissional e pessoal.
- Participe de atividades de lazer com amigos e familiares.
- Faça atividades que “fujam” à rotina diária, como passear, comer em restaurante ou ir ao cinema.
- Evite o contato com pessoas “negativas”, especialmente aquelas que reclamam do trabalho ou dos outros.
- Converse com alguém de confiança sobre o que se está sentindo.
- Faça atividades físicas regulares. Pode ser academia, caminhada, corrida, bicicleta, remo, natação etc.
- Evite consumo de bebidas alcoólicas, tabaco ou outras drogas, porque só vai piorar a confusão mental.
- Não se automedique nem tome remédios sem prescrição médica.
Para pastores e líderes da Igreja é importante seguir o conselho do Rowland Croucher, autor e pastor australiano
Croucher indica juntar-se a um pequeno grupo de apoio, pois colegas de ministério irão entender melhor as necessidades, aumentando a confiança e providenciando ampliação de suas visões de administração eclesiástica e aconselhamento pessoal.
Burnout e a Bíblia
A palavra de Deus também nos mostra como podemos prevenir o Burnout.
Jesus Cristo nos ensina que o melhor lugar para descansarmos e recuperarmos as nossas forças e senso de propósito é aos seus pés.
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” (Mt 11:28)
Jesus está falando para todas as pessoas sob o peso da Lei de Moisés, de sua falência espiritual e de seus esforços vãos para serem dignas diante de Deus.
Nada disso é possível alcançar longe de Cristo. Aos pés Dele o “fardo é leve e o jugo é suave”. Precisamos ouvir a voz de Deus e descansar nEle.
A pressão que colocamos em nós mesmos e nas nossas obras para agradar ao Senhor fica evidente na história de Marta e Maria.
Enquanto Marta se esforçava e trabalhava sem parar para agradar Jesus, Maria ficou com a melhor parte. Descansou aos pés do Senhor.
O trabalho é importante, mas, como Maria, devemos aprender que ter intimidade com o Senhor é a parte mais importante.
O sucesso com o trabalho está diretamente ligado com o tempo de descanso.
Burnout não é falta de fé
Um dos grandes erros atuais é atribuirmos doenças mentais, como a depressão, à falta de fé.
Embora o burnout envolva erros pessoais, como negligenciar a sua própria saúde, não podemos atribuir isso nunca à uma fé abalada.
Muitas vezes pessoas extremamente zelosas, tementes e que trabalham de forma intensa para o Senhor, podem ter o esgotamento, justamente, por servir em excesso.
Nas Escrituras vemos como muitas pessoas passaram por momentos emocionalmente instáveis.
Um bom exemplo é Davi ao perder seu filho Absalão (2Sm 18) ou em diversos momentos mostrados nos Salmos, como o 51, que mostra sua desolação por conta do seu pecado.
Temos também o exemplo do profeta Elias, ao ser perseguido por pregar a mensagem de Deus e não ver o arrependimento do povo.
Recentemente temos casos de pastores que são referências por sua teologia e vida de total entrega ao Senhor que sofreram com esse problema, como John Piper e Augustus Nicodemus.
Dois homens com a fé plena no Senhor, mas que sofreram com o esgotamento. O próprio Nicodemus fala abertamente sobre o tema e dá ótimas lições aos líderes de igrejas:
O papel da Igreja no cuidado com seus pastores e líderes
O papel da igreja local é apoiar seu líder e entender que ele pode passar por fases turbulentas em sua vida.
É fundamental permitir que o pastor tenha férias, descansos semanais, momentos de lazer com sua família e amigos, além de estar do seu lado em seus erros e acertos.
Concluindo, não basta que apenas o pastor seja consciente, mas que também a igreja, composta por presbitério e membresia, entendenda que a responsabilidade pelo cuidado é de ambas partes!
Que líderes possam reservar tempo de sua rotina para se exercitar, divertir-se, ficar com a família e interagir com amigos.
Que descansem e tenham salários justos!
Pois um indivíduo só irá exercer sua função da melhor maneira quando estiver em boa condição física, mental e espiritual.
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Este post tem 3 comentários
Isso mesmo. Já vimos que estamos querendo mudança. Temos que tomar posse desta mensagem e colocar em prática pois o evangelho é para entender que ele nos traz guerra, mas também encontramos a paz que excede todo o entendimento. Tenho recebido isto como uma confirmação de Deus para mim, pois tenho recebido este entendimento. Muito bom para que possamos refletirmos naquilo que estava morto em nós. QUANDO DEUS FALA PARA VC TER ÂNIMO, NÃO É PARA VC VIVER CORRENDO PRA ALCANÇAR BÊNÇÃO. VC É A BÊNÇÃO. Muito bom essa matéria. Vou compartilhar e continuar vivendo isso.
GRAÇA E PAZ…?♂️?
Muito bom ?
O Assunto abordado apresenta grande relevância. Parabéns pelo artigo, apenas senti falta das fontes de pesquisa.